domingo, 13 de abril de 2008

Cream parte 1


"Cream" é uma pequena história que pretendi criar, vamos ver no que vai dar...

Agnetta tomava seu café cremoso, repousando a xícara após breves goles na mesinha de centro de seu apartamento. Morava em uma cidade nebulosa, coberta pelas brumas de fumaça que apareciam dos escapamentos dos carros e da grande fábrica que se localizava em frente a seu edifício. Pelo menos metade dos moradores de lá contribuia pra deixar o ar de suas próprias casas poluído, mas Agnetta não era uma delas agora. Desde semana passada que ela não trabalhava mais como secretária da fábrica de produtos químicos que ela nunca soube pra onde eram, nem como eram produzidos. Mas isso agora fazia menos importância que semana passada. Desde que a indústria não a matasse lentamente, para ela tanto fazia.
Saiu com seu vestido decotado, uma enorme fenda nas costas, para encontrar algo que pudesse preencher seu dia. Bateu em diversas portas, portinhas, portões, e nada de achar algo que pudese substituir seu emprego antigo. Entrou então em um bar, às três horas da tarde mais quente que havia visto naquele mês de maio, e pediu uma bebida bem forte, algo que pudesse atordoá-la a ponto de matar os neurônios que produziam a idéia de voltar para pedir seu antigo emprego. Nunca faria isso, ainda mais diante das circunstâncias de sua saída.
Ainda lembrava-se nitidamente do que havia acontecido: a esposa de seu chefe havia sido pega por seu próprio filho cheirando uma carreira de cocaína com o melhor amigo dele, bêbado, no meio da sala do marido dela. E Agnetta havia presenciado a briga, a agressão, a indignação, as suspeitas de traição, o suposto destino do dinheiro desfalcado da empresa...tudo, viu tudo mas foi obrigada a não contar nada. A não ver nada. A não ouvir nada. Senão seria demitida na certa. Mas ela não conseguiu esconder o acontecido e a corda arrebentou do lado mais fraco, e o emprego na indústria química foi se afastando, afastando, até ser afastado dela definfitivamente.
Agora só restava lamentar-se e pedir mais uma dose. Ou duas. Quem sabe assim não seria mais fácil arranjar algum emprego mais fácil, uma vida menos digna...
Foi aí que apareceu um rapaz. Vestido não para impressionar, mas para causar conforto aos olhos, ainda mais aos olhos ébrios de Agnetta. No mesmo instante ela pensou em se afastar, mas algo parecia dizer-lhe que teria uma chance dourada se deixasse o rapaz falar com ela pelo menos cinco minutos. Ele abriu os lábios delicados e disse pausadamente: " Agnetta, tenho um emprego para você."

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